A coisa funciona assim no Lux, a discoteca mais conhecida, mais badalada e mais elogiada de Lisboa: os conhecidos da casa e os VIP entram por uma zona lateral, é tudo beijinhos e abraços, olá boa noite, sejam bem-vindos, não há cá consumos mínimos; os comuns mortais vão para a fila, sujeitando-se à ditadura arbitrária do porteiro. Se preencherem os insondáveis requisitos de entrada, pagam 12 euros e recebem o equivalente em senhas que podem trocar por bebidas. Se não caírem nas boas graças do homem, e como impedir a entrada é ilegal, toma lá um consumo mínimo 20 vezes superior. Sim, leu bem. Aconteceu connosco.
“Boa noite. Ora bem, são 240 euros por pessoa. Aceita?” Claro que não, era o que faltava! Éramos quatro: dois homens, duas mulheres. Quase mil euros por umas horas de diversão? Não obrigado. A ideia, percebe-se, foi impedir-nos de entrar. Não funcionou com o jovem que chegou de Porsche e vinha logo atrás de nós. Aceitou pagar 240 euros, mesmo quando outros, um minuto antes, pagaram 12 cada.
Esta flagrante discriminação é legal. Acontece todos os fins de semana, no Lux e noutros espaços noturnos, e ninguém parece importar-se realmente com isso. Ninguém se choca. Ninguém questiona se, em pleno século XXI, este comportamento é aceitável.
O pior é se a moda pega. Vai ao brunch da Bica do Sapato, dos mesmos proprietários do Lux, e, ao invés dos 25 euros que pagam os outros clientes, pedem-lhe 500. Nunca ficará a saber se foi porque é negro, porque vai de sapatilhas, porque não tem o corte de cabelo certo ou porque, simplesmente, não gostaram da sua cara. Ou vai à ópera e, sem qualquer motivo, perguntam-lhe se quer pagar 240 euros quando acabaram de cobrar 12 por um lugar mesmo ao lado do seu. Acha normal? Aparentemente há quem ache.
Não foi a primeira vez que fui ao Lux: já lá festejei aniversários, já lá dancei ao som do Jamie XX e do Chet Faker, já saí quando o dia amanhecia. Mas esta foi a primeira vez que me pediram 240 euros. Na página da discoteca há centenas de pessoas a queixarem-se do mesmo. Quase todas são estrangeiras. Quase nenhuma percebeu o critério.
Fonte: Expresso