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“Eu só queria acabar com o choro dela”. A história da fotografia que está a comover o mundo

John Moore, fotógrafo da Getty imagens, relata o que viu na fronteira com os EUA. “Foi doloroso para mim, como jornalista e como pai”

A criança chora junto às pernas da mãe, que é revistada por um agente das autoridades fronteiriças, de luvas roxas, na fronteira dos EUA.

John Moore é o autor da imagem que está a correr mundo, símbolo da indignação e crítica à politica de tolerância zero que Donald Trump está a impor nas fronteiras dos EUA e que tem como efeito que menores sejam separados dos pais.

“Gostaria de dizer que foi um prazer fazer estas fotos importantes, mas foi doloroso para mim, como jornalistas e como pai.”

A reportagem começou quando John Moore acompanhou oficiais de patrulha em McAllen, no sul do Texas, fronteira com o México. Como explicou ao Washington Post, estava lá para fazer fotografias, não para falar com os imigrantes. A regra foi quebrada ainda antes de ter encontrado a protagonista da fotografia.

Na escuridão do vale de Rio Grande, Moore e os agentes encontraram dezenas de imigrantes prestes a pisar solo americano. Quase todos mulheres e crianças, contou. Um rapaz, entre os 10 e os 12 anos, chamou-lhe a atenção. Parecia aterrorizado. Tem mais ou menos a mesma idade que as filhas do fotógrafo. Tentou acalmá-lo, mostrou-lhe fotos do rio e disse-lhe que tudo ia correr bem, o que, agora, lamenta, “Não sei se vai correr bem”, disse. Percebeu que seria uma reportagem emotiva, mas o momento mais importante aconteceria depois.

Com as famílias alinhadas para a revista policial, os seus olhos encontraram os de uma mulher que amamentava a filha no meio da estrada. Começou a tirar fotografias e ela contou-lhe a sua história. Que a filha tem dois anos e que a jornada levava um mês. Estavam sozinhas. São das Honduras, hoje um dos países mais violentos da América do Sul, dominado pela violência de gangues e perigosas rotas de imigração.

A imagem da mãe a amamentar a filha é apenas uma das várias que tirou. A que fez capa do The New York Times é aquela em que a criança olha o agente, junto às pernas da mãe. E chora, visivelmente aflita.

Uma menina a chorar enquanto a mãe é revistada

“Ainda não tinha a fotografia que mostrasse o impacto emocional da separação das famílias”, explicou Moore. Pediu para acompanhar aquela mulher e a filha. Captou, por exemplo, o momento em que ela tira os atacadores dos sapatos da menina. Todos os objetos pessoais – de ganchos de cabelos, a atacadores, passando por alianças — são guardados num saco etiquetado “Segurança Interna” e empilhados.

Quando chegou a vez de a mãe ser revistada pela polícia, a menina começou a chorar. “Eu só queria acabar com o choro dela.” Foi assim que John Moore, já distinguido com um prémio Pulitzer, descreveu aquele momento.

Também percebeu que estas eram as imagens que precisava para a reportagem, capa do The New Yotk Times e do Daily News.

Cerca de 2 mil menores foram separados dos pais e a secretária de Estado da Segurança Interna justificou a medida como tendo sido “para a segurança das crianças”, uma afirmação que tem sido contestada tanto pela oposição democrata como pelos republicanos, que apoiam Trump. A primeira-dama norte-americana já se manifestou contra a separação das famílias e o caso

As fotografias de Moore têm sido o ponto de partida de vários artigos de opinião. “O número de crianças levadas pela administração, usando o medo dessas crianças como forma de parar a imigração indocumentada está aparentemente a criar cidades de tendas em bases militares para as albergar”, escreve Charles C. Camosy, no Times.

Richard Cohen, no Washington Post, vai mais longe. “John Moore pode ter derrotado o Partido Republicano nas intercalares e arruinado as perspetivas de reeleição do presidente Trump. (…) Não é claro que a criança tenha sido separada da mãe, e, de facto, ela tinha acabado de pôr os pés no chão para a mãe ser revistada. Os detalhes, porém, não são importantes. A fotografia, com efeito, é de Trump – da sua cruel política, do seu coração gélido, da sua falta de empatia.”