Sofia Fava tentou negociar com o Ministério Público. A ex-mulher de José Sócrates prometia falar se o procurador lhe garantisse o ‘perdão’ dos crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais. Rosário Teixeira não aceitou – a delação premiada não existe no nosso País – e lembrou ao advogado que mesmo que Fava não fosse acusada – e o processo fosse suspenso – tal situação poderia ser contestada pelos assistentes ou pelo juiz de instrução.
Nessa altura do processo, em março deste ano, a prova já era muito consistente. As escutas eram por demais evidentes e muitos testemunhos, como o da ex-cunhada de Sócrates, Tânia Gouveia, não deixavam dúvidas sobre a construção de uma mentira: que a mãe de Sócrates tinha uma fortuna e que Sócrates vivia às suas custas.
Também os testemunhos das ex-namoradas são esclarecedores. Célia Tavares assume que Sócrates lhe entregou cerca de 400 a mil euros por mês e chegou a admitir que “seria burrice não aceitar o dinheiro” de alguém que tinha “essa generosidade”. O antigo primeiro-ministro suportou-lhe desde as propinas da faculdade, até à conta da luz e ao IMI da casa.
Já Sandra Santos, que recebeu quase 100 mil euros ao longo dos anos, invocou estranhos problemas de memória e garantiu que tudo foi um “empréstimo” de Santos Silva. Foi desmentida no depoimento prestado por Lígia Correia, atual namorada de Sócrates, que assumiu que pagou viagens a Sandra e lhe entregou 500 euros . Fez tudo isto a mando do antigo primeiro-ministro.
Ex-mulher prometeu explicar fluxo de milhões
É um dos depoimentos mais surpreendentes do processo Marquês. Sofia Fava, ouvida em interrogatório complementar a 15 de março deste ano, tentou negociar com o Ministério Público. O advogado Paulo Sá e Cunha sugeriu a suspensão provisória do processo. Em troca, Fava poderia explicar os fluxos de dinheiro que afastariam, pelo menos no que a ela dizia respeito, o branqueamento de capitais.
A proposta apanhou de surpresa as duas magistradas que presidiam à diligência. Rosário Teixeira, que dirigia o processo, não estava. E as procuradoras parecem ter ficado sem reação. “Tá aqui a pôr-me numa situação, porque eu não me posso comprometer nesta fase”, afirmou a magistrada.
A conversa do advogado também não era clara. Foi tudo com meias palavras, nunca foi proferido o nome ‘José Sócrates’, e Fava não disse claramente se estaria disposta a ‘deixar cair’ o seu ex-marido.
“Podendo a minha constituinte sair do processo mais cedo possível e podendo o processo também perder alguma…alguma carga acessória, digamos assim, e focar-se no principal, isso não era mau, não é? Ou não seria mau, não é? Agora, se me dizem à partida que isso é impossível, pronto, não vale a pena”, afirmou Paulo Sá e Cunha.
Pode ainda ler-se na transcrição integral da diligência que as magistradas estavam surpresas. “Neste momento não lhe posso dizer se é possível ou impossível”, disseram. “Mas nem me pode dar ideia nenhuma?”, insistiu Sá e Cunha. “Não”, respondeu a magistrada. Sofia Fava acabou por nada revelar na diligência.
A quinta que é ‘uma história de amor’
A compra da quinta do Alentejo, por 800 mil euros – e paga por Santos Silva – é afinal uma ‘história de amor’. Contou Sofia Fava que se apaixonou por uma quinta no Norte, quando conheceu Costa Reis.
Como não a conseguiu comprar, escolheram outra a Sul. Entrar na A1, disse, lembrava-a do “amor perdido”.
Ia para Paris ‘revezar-se’ para tomar conta do filho
Sofia Fava disse às procuradoras que nunca quis morar em Paris. “O pai do meu filho pediu-me para eu ir revezar-me para tomar conta do miúdo. Eu, relativamente a Paris, eu estava lá praticamente a fazer babysitting”, afirmou.
Uma das magistradas perguntou a Fava quem é que pagava as despesas do apartamento de Paris. A ex-mulher de Sócrates não tem dúvidas. Era Santos Silva. “O Carlos pagou, ele até me enviou um mail com o total das despesas. Acho que ele devia ter enviado para o Zé Sócrates e enviou para mim e eu tinha essa dívida p’a lhe pagar”. Tinha a dívida para lhe pagar, mas não o fez. E também já não sabe quantificar quanto é que deve a Santos Silva.
Sofia Fava diz apenas que foi ela que ‘guardou’ o dinheiro de Sócrates pela venda do apartamento da Herons Castilho. Foram cerca de 500 mil euros que usou para pagar parte das dívidas a Santos Silva.
Ministério Público arrestou quinta
A Quinta das Mimosas, no Alentejo, foi arrestada. O Ministério Público diz que foi mais um negócio falseado. Porque foi paga com dinheiro de Carlos Santos Silva, que afinal pertencia a José Sócrates.
Obras na casa feitas também por amigo
A casa na Abade Faria sofreu obras que foram feitas por uma empresa de Santos Silva. Fava garantiu que foi uma coincidência: não encontrava ninguém e o amigo do ex-marido ofereceu-se.
Não sabia que tinha de pagar IMI da casa
Sofia Fava contou que vendeu uma casa na rua de Francisco Stromp, mas que não pagou o IMI porque pensou que estava tudo resolvido. “Quando me apercebi regularizei tudo”, garantiu.
Consulta a proposta aqui:
Fonte: CM