O mediático juiz Carlos Alexandre, natural de Mação, assumiu ao mediotejo.net a defesa dos valores da sua terra e das suas gentes, manifestando-se muito crítico para com o fenómeno dos incêndios que devastaram 80% do concelho em 2017, e afirmou estar solidário com Arlindo Marques e a sua ação em prol da defesa do Tejo, nomeadamente no processo que este tem em Tribunal, movido pela empresa Celtejo.
O super juiz, como é conhecido por estar associado a casos de grande impacto público, como o Caso Monte Branco, mas também Operação Furacão, Caso Portucale, Processo Face Oculta, Caso BPN, Caso Vistos Gold e Operação Marquês, entre outros, disponibilizou-se para servir de testemunha abonatória do ambientalista, o que Arlindo Marques aceitou prontamente, reconhecido por poder contar com mais este apoio na sua defesa, num processo onde a empresa reclama do ambientalista 250 mil euros por difamação.
“Disponibilizei-me e vou servir de testemunha do Arlindo Marques no processo que lhe foi movido em Tribunal porque sou de Mação, porque conheço bem o rio e os seus problemas com a poluição, nomeadamente na zona ribeirinha de Ortiga, e por estar solidário com o exercício de cidadania de Arlindo Marques”, disse ao mediotejo.net o juiz Carlos Alexandre, de 56 anos, natural de Mação, onde passou toda a sua infância e onde regressa frequentemente.
O juíz exerce atualmente no Tribunal Central de Instrução Criminal em Lisboa.
“Vivi em Mação até aos meus 18 anos e, em 1983, no meu 5.º ano de faculdade, fui carteiro em Ortiga, onde bati à porta daquela gente toda, pelo que conheço bem o rio e as gentes ribeirinhas, os problemas de poluição e a importância dos seus impactos no Tejo e de quem fazia e quer fazer vida dele”, disse ainda Carlos Alexandre, um homem que trabalhava nos tempos livres de escola e faculdade para ajudar a pagar os estudos, tendo sido carteiro e também bombeiro em Mação.
“Em Mação temos duas frentes que nos dão muitas dores de cabeça”, disse, bem disposto mas em tom sério. “Por terra, é o problema dos incêndios; por água, é o problema do rio e da poluição. Nota-se a olhos vistos a deterioração das águas do Tejo, a jusante de Vila Velha de Rodão, e vou dar testemunho disso mesmo em Tribunal, na defesa do Arlindo, porque a ele me associo e ao trabalho de cidadania que tem desenvolvido”, reiterou.
Apoios anónimos, de peso, e o Presidente da República
Um apoio que Arlindo Marques, natural da freguesia ribeirinha de Ortiga e conhecido pelas populações como o ‘Guardião do Tejo’, por passar as horas livres junto ao rio e a denunciar nas redes sociais casos de poluição, disse ao mediotejo.net aceitar “com orgulho”, tendo considerado ser uma testemunha abonatória “muito importante” para a sua defesa.
“É uma testemunha muito importante porque é muito conhecida, viveu no Tejo e sabe do que fala, pelo que é com orgulho que já disse ao meu advogado para incluir o seu nome na lista das 10 testemunhas que posso apresentar É um apoio de peso”, disse hoje Arlindo Marques.
As 10 testemunhas de defesa estão já definidas e a lista é composta por advogados, autarcas, engenheiros, pescadores e deputados de vários partidos políticos.
“Era o máximo de testemunhas que podia apresentar mas tinha muito mais pessoas a querer ir defender-me a Tribunal. Eu até me assusto, no bom sentido, com todo este movimento de apoio que tenho sentido por parte de tanta gente”, confessou. “No supermercado reconhecem-me e vêm ter comigo com palavras de incentivo, na rua abraçam-me e cumprimentam-me, no café a mesma coisa, é um sentimento muito forte de apoio que me transmitem e que eu muito agradeço. Certo é que sozinho não sou ninguém e todos estes apoios são muito importantes para ajudar nesta luta”, reconheceu.
“Eu sou uma pessoa humilde, que gosta do rio e que exerce a sua cidadania e denuncia casos de poluição que não deviam acontecer. Vir uma empresa exigir-me uma fortuna de 250 mil euros deixou-me muito triste mas não me calam com este processo em Tribunal e o apoio das pessoas dá-me ainda mais força”, afirmou, tendo lamentado que o Presidente da República não tenha ainda vindo ver o problema junto das comunidades ribeirinhas.
“Já escrevi duas cartas ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e já me respondeu. Eu aceito a sua resposta mas só falta ele vir cá dar uma palavra a estes pescadores e a esta gente que sofre com este problema. Eu gostava, e acho que era muito importante, que o Presidente da República tivesse uma palavra a dizer sobre tudo isto”, defendeu.
Para ajudar as pagar as despesas com o processo, o movimento pelo Tejo – proTEJO, lançou uma campanha de recolha de donativos através de uma plataforma online, a que se juntam espetáculos solidários, almoços, venda de calendários e outras iniciativas que têm por fim a recolha de fundos para ajudar a suportar as despesas judiciais de Arlindo em Tribunal.
Campanhas de solidariedade e recolha de fundos
A campanha de crowdfunding do proTEJO, lançada a 16 de janeiro, estará em vigor até às 16:00 de dia 16 de março, sendo que o ProTEJO garante que “o valor que não seja utilizado no âmbito do processo será destinado à restauração fluvial do rio Tejo”.
Às 20:00 de hoje, sábado, dia 10 de fevereiro, estavam registados 365 apoiantes que contribuíram com 8.598 euros, 39% do objetivo.
Na página da plataforma que acolhe a campanha, o Movimento Pelo Tejo mostra a sua “solidariedade com o Arlindo Consolado Marques no processo instaurado pela Celtejo-Empresa de Celulose do Tejo, SA, do Grupo ALTRI”, prevendo que o prazo do processo seja de dois anos e estabelecendo uma meta de 21.885 euros, a atingir dentro de um mês e três dias.
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