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Unilever e Nestlé entre as nove marcas globais que contribuem para a exploração no trabalho

Amnistia Internacional lança um relatório onde prova a relação entre uma série de produtos de consumo comum e as miseráveis condições de trabalho escondidas no modo como são extraídos os seus ingredientes

Qual o elemento que liga a pasta de dentes, o champô e os cereais de pequeno-almoço ao trabalho infantil e ao trabalho forçado? O óleo de palma. Esta é a relação encontrada por uma investigação de fundo levada a cabo pela Amnistia Internacional sobre as precárias condições de trabalho dos trabalhadores e as marcas globais que delas beneficiam.

O relatório “Óleo de palma: Marcas globais beneficiam de trabalho infantil e forçado” (Palm Oil: Global brands profiting from child and forced labour) foi tornado público esta quarta-feira. Nele a Amnistia Internacional (AI) documenta a investigação em que apurou a utilização de trabalho forçado e de trabalho infantil na produção de óleo de palma que é usado em produtos de grande consumo alimentares e de uso doméstico. Por trás destes, estão as maiores marcas mundiais de produtos alimentares e de consumo doméstico como a Colgate-Palmolive, Kellogg’s e Nestlé.

Algumas destas marcas asseguram na literatura e rótulos usar “óleo de palma sustentável”, mas a investigação da AI concluiu que “ele é tudo menos isso” porque “não há nada de sustentável no óleo de palma que é produzido por trabalho infantil e forçado”.

A AI denuncia que grandes empresas fecham os olhos à exploração dos trabalhadores da sua cadeia de fornecimento de materiais para fabrico de ingredientes, empresas de dimensão internacional que, mesmo assim, prometem aos seus clientes não haver qualquer exploração nas cadeias de fornecimento de óleo de palma que utilizam. Entratanto e apesar disso, beneficiam dos terríveis abusos dos trabalhadores que acontecem, por exemplo, na Indonésia, onde crianças de apenas oito anos de idade trabalham em condições e ambientes descontrolados.

A investigação que originou o presente relatório foi levada a cabo em plantações na Indonésia geridas pelo maior produtor mundial de óleo de palma, o gigante agrícloa Wilmar, fornecedor das nove empresas globais AFAMSA, ADM, Colgate-Palmolive, Elevnce, Kellogg’s, Nestlé, Procter & Gamble, Reckitt Benckiser e Unilever

REVELAÇÕES CHOCANTES

As conclusões a que chegou este estudo da organização de defesa dos direitos humanos vão chocar “qualquer consumidor que pensa que está a fazer escolhas éticas no supermercado”, quando compram produtos que dizem garantir a sustentabilidade dos ingredientes utilizados na composição dos seus produtos.

“Alguma coisa está errada quando nove empresas que tiveram lucros totais combinados de 306 mil milhões de euros em 2015 sejam incapazes de fazer alguma coisa contra o atroz tratamento dos trabalhadores das plantações de palma, os quais apenas ganham alguns tostões”, diz Meghna Abraham, investigadora sénior da Amnistia.

A lista de abusos é extensa e fica exposta no relatório. Inclui o pagamento a mulheres muito abaixo do ordenado mínimo – 2,50 dólares (2,35 euros) por dia – sob ameaça de ser cortado ou não pago caso reclamem; uso de menores de oito anos que são obrigados a abandonar os estudos e a trabalhar em esforço longas horas por dia com materiais tóxicos; trabalhadores obrigados a desempenhar as suas tarefas no exterior sem equipamento adequado em locais e condições que apresentam perigos.

O objetivo da AI é fazer campanha junto destas empresas para que revelem aos seus clientes se o óleo de palma contido em produtos populares como os gelados Magnum, a pasta Colgate, a sopa Knorr, o chocolate KitKat, o detergente Ariel, ou o champô Pantene vêm do complexo indonésio da Wilmar.

Apenas duas destas companhias – Kellogg’s e Reckitt Benckiser – confirmaram. A Colgate e a Nestlé reconheceram receber óleo de palma das refinarias Wilmar, na Indonésia, mas não designaram quais os produtos que o contêm. A Unilever e a Procter & Gamble não especificaram a lista de produtos e as outras três deram respostas vagas ou não responderam.

 

Fonte: Expresso